O perispírito
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Para termos uma visão holística do Homem, precisamos conhecer, além do corpo carnal, seus corpos mais sutis

 

Comecemos com uma análise sobre o pensamento de Allan Kardec. Ele estabeleceu uma concepção tríplice acerca do homem, que seria formado pelo espírito, pelo perispírito e pelo corpo físico. Erroneamente, muitos proclamaram esta concepção como genuinamente espírita, enquanto que o codificador, reconhecendo sua anterioridade, fazia questão de lembrar a existência de antecedentes históricos que a confirmavam como um elemento presente nas mais variadas culturas. Ao seu ver, este fato constituía uma prova da universalidade do Espiritismo.

Kardec não se limitou aos antecedentes oriundos das culturas orientais, mas trouxe a doutrina de Paulo de Tarso, que registrava a concepção tríplice e foi explorada por Watchman Nee, pensador protestante. Para Paulo, o conceito de alma não é de espírito encarnado, como consta em O Livro dos Espíritos, ou de princípio inteligente, como propôs Kardec, mas corresponde ao de perispírito, intermediário entre o espírito e o corpo físico. É interessante destacar que o codificador não reinvindicava prioridades para o Espiritismo. Ao estudar comparativamente as filosofias religiosas, procurava demonstrar que a verdade nele contida estava no fundo dos tempos.

Durante a revelação espírita, foram recebidas várias mensagens e realizados experimentos que indicavam uma pluralidade de corpos espirituais, correspondendo aos vários sharitras ou koshas (corpos) das doutrinas hinduístas. O dr. Antônio J. Freire registra uma comunicação mediúnica obtida pelo coronel Albert de Rochas e ditada pelo espírito Vincent. Dizia que “o perispírito é constituído por uma série de invólucros mais ou menos eterizados, dos quais os habitantes do mundo astral vão se desfazendo sucessivamente, à medida que se elevam na escala de evolução, não sendo embutidos uns sobre os outros, como os tubos de um telescópio, mas se interpenetrando em todas as suas partes”. As investigações dos grandes magnetizadores levaram à admissão dessa pluralidade de corpos espirituais.

Ao definir o perispírito em O Livro dos Espíritos, Kardec o descreveu como sendo um laço que liga o espírito ao corpo físico. Afirmou ser este constituído de eletricidade, de fluido magnético animalizado, de fluido nervoso, de matéria inerte, semimaterial, “matéria elétrica ou de outra tão sutil quanto esta”. É evidente que tais palavras não são sinônimas e que Kardec procurava abarcar mais amplamente a natureza do perispírito, dando a entender a existência de uma constituição plúrima, como se pode deduzir da assertiva de se tratar de um fluido nervoso.

Quando Kardec escreveu que o perispírito é constituído de matéria sutil, nervosa e inerte, é evidente que ele estava se referindo ao perispírito como um corpo complexo, não de natureza única.

Outro indício dessa complexidade surge quando Kardec se refere à evolução do perispírito. No capítulo IV de O Evangelho Segundo o Espiritismo, o espírito São Luiz afirma que “o próprio perispírito sofre transformações sucessivas, eterizando-se cada vez mais até a depuração completa, que constitui os espíritos puros”. Segundo o codificador, “sabemos que, quanto mais eles se depuram, mais a essência do perispírito se torna etérea, de onde se segue que a influência material diminui à medida que o espírito progride, isto é, conforme o perispírito mesmo se torna menos grosseiro”. Em O Livro dos Médiuns, disse ainda que “sua natureza se eteriza à medida que ele se depura e eleva na hierarquia”.

É claro que, para a compreensão dos textos, existem duas hipóteses: o perispírito tornar-se-ia mais leve, os fluidos ficariam menos grosseiros, porém, a natureza seria idêntica, não sendo necessária a referência a um corpo complexo; a eterização do perispírito é de tal ordem que ele abandona determinadas camadas, próprias de certas zonas invisíveis, quando é elevado na hierarquia espiritual, passando a viver em esferas mais altas. Neste caso, teríamos indicações de uma natureza complexa para o perispírito nas referências. As duas hipóteses de compreensão não se excluem, pois as mensagens espirituais que têm sido recolhidas e a própria vidência deixam claro que o perispírito se mostra mais diáfano e luminoso à medida que o espírito se eleva.

O que se coloca como questão é se o espírito conserva um corpo espiritual da mesma natureza ao se elevar para zonas mais próximas da Terra ou se realmente há uma mudança em sua estrutura, necessária para a nova ambientação, levando à admissão de uma complexidade em sua organização. Em outras palavras, a evolução do perispírito não seria mais do que a própria modificação dos corpos espirituais.

Kardec apenas ensaiava o estudo do perispírito e, portanto, não poderia conhecer tudo o que lhe dizia respeito. Os próprios espíritos não foram muito expressivos, seja porque preferiam dosar o ensino (como, aliás, sempre advertiram), porque a linguagem humana lhes assinalava óbvias restrições ou porque faltava conhecimento mais preciso do assunto para muitos dos comunicadores, decorrente da relatividade dos próprios espíritos, conforme Kardec assinalou tantas vezes.

No entanto, devemos recordar que, no Ensaio Teórico da Sensação nos Espíritos, presente no item 257 de O Livro dos Espíritos, o codificador deu mostras de sua larga visão. Partindo da eterização do perispírito (quanto mais eles se depuram, mais a essência do perispírito se torna etérea), ele concluiu que as sensações do ambiente terreno seriam inacessíveis para espíritos muito elevados, o que só poderia ocorrer se sua natureza fosse completamente diferente.

Podemos agora tecer algumas considerações a respeito do problema dos corpos espirituais na obra de André Luiz, psicografada pelo médium Chico Xavier, procurando esclarecer alguns detalhes que parecem bastante importantes.

A partir de seu primeiro livro, Nosso Lar, no qual relata suas primeiras experiências no plano espiritual, André Luiz faz referência a vários corpos espirituais: duplo etérico, corpo astral, corpo mental e corpo causal. Inicialmente, devemos lembrar que ele utiliza o termo perispírito em sentido estrito, para significar apenas o segundo corpo após o organismo físico, que sobreviverá a este com algumas diferenças. Ele usa os termos corpo astral, corpo espiritual e psicossoma como sinônimos. Para os outros corpos, utiliza vocábulos consagrados entre os magnetizadores e espiritualistas (duplo etérico, corpo mental e corpo causal). Ele não se refere à existência de outros corpos que correspondessem aos denominados corpos moral, intuitivo e consciencial, isto é, os Aerossomas V, VI e VII da classificação de Charles Lancelin.

A divergência pode se tornar uma simples questão de palavras se encararmos o perispírito como sendo um corpo complexo, formado, por assim dizer, de “camadas”, sintetizando todos os corpos espirituais. Para o dr. Antônio J. Freire, a concepção clássica do ternário humano não implica necessariamente a homogeneidade do perispírito. As palavras pouco importam aos espíritos, competindo ao homem formular uma linguagem que elimine controvérsias.

 

A “segunda morte”

Já destacamos o fato de que André Luiz utiliza o termo perispírito em um sentido estrito, como sinônimo de corpo astral. No livro Entre a Terra e o Céu, ele o descreve como sendo formado de matéria rarefeita, “intimamente regido por sete centros de força que se conjugam nas ramificações dos plexos e que, vibrando em sintonia uns com os outros, ao influxo do poder diretriz da mente, estabelecem, para o nosso uso, um veículo de células elétricas que podemos definir como sendo um campo eletromagnético, no qual o pensamento vibra em circuito fechado”. Em regiões destinadas à renovação espiritual, como a colônia Nosso Lar, o perispírito é o veículo de manifestação para as atividades do espírito.

Segundo André Luiz, o corpo espiritual é o “santuário vivo no qual a consciência imortal prossegue em manifestação incessante além do sepulcro, formação sutil urdida em recursos dinâmicos e extremamente porosa e plástica, em cuja tessitura as células, em outra faixa vibratória, face ao sistema de permuta visceralmente renovado, são distribuídas mais ou menos à feição das partículas colóides, com a respectiva carga elétrica, comportando-se no espaço segundo a sua condição específica e apresentando estados morfológicos conforme o campo mental a que se ajusta”. Ele possui uma estrutura eletromagnética e se encontra algo modificado em relação ao corpo físico, no que se refere a fenômenos genésicos e nutritivos, sob a direção da mente que o rodeia. Quando o espírito reencarna, desfaz dos elementos próprios do plano astral. André Luiz refere-se mesmo ao fenômeno da “segunda morte” ou morte do perispírito, que ocorreria em três situações distintas: quando os ignorantes e maus se pervertem adensando a mente e gravitando em torno de paixões infelizes (formas “ovóides, verdadeiros fetos ou amebas mentais”); quando se verificam as operações redutoras para renascimento na carne; quando os espíritos enobrecidos conquistam os planos mais altos. Para maiores informações sobre o assunto, consulte o livro Evolução em Dois Mundos.

Na segunda hipótese, quando o espírito reencarna obrigatóriamente, o processo de restrição verifica-se em pavilhões de restringimento, sendo ele “reduzido a um dimunto corpo ovalado, onde estão preservados os seus centros de força”, “lembrando uma pastilha”. Segundo informação de Francisco Cândido Xavier, os despojos são enterrados num cemitério. Na terceira hipótese, o espírito, passando a viver em região superior, não pode levar instrumento útil na inferior – “o tipo de veículo utilizável se modifica”.Utiliza-se então de outro corpo – o mental.

Sabemos que os fenômenos psicológicos exigem uma base física no organismo humano, isto é, eles se produzem em nosso nível de ação ancorados pelo sistema nervoso central e periférico. Do mesmo modo, existem nos vários corpos espirituais sistemas próprios equivalentes que sustentam esses fenômenos. Registrando as palavras do assistente espiritual Calderaro, André Luiz descreve: “Todo campo nervoso da criatura constitui a representação das potências perispiríticas, vagarosamente conquistadas pelo ser, através de milênios e milênios “. O sistema nervoso é o ponto de contato entre o perispírito e o corpo físico. Ele “mais não é do que a representação de importante setor do organismo perispirítico”. É no sistema nervoso e no sistema hemático que possuimos as duas grandes âncoras do organismo perispiritual com relação ao físico. Não há de causar admiração o fato de haver, no perispírito, sistemas correspondentes aos do organismo físico, desde que, afinal, aquele é que modela este. (...) o nosso corpo de matéria rarefeita está intimamente regido por sete centros de força, que se conjugam nas ramificações dos plexos e que, vibrando em sintonia uns com os outros, ao influxo do poder diretriz da mente, estabelecem para nosso uso, um veiculo de células elétricas, que podemos definir como sendo um campo eletromegnético, no qual o pensamento vibra em circuito fechado”.

 

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