Yoga – A união Divina
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Cada vez mais divulgado no Ocidente, o Yoga não é apenas um sistema de harmonização psicofísica, mas uma verdadeira filosofia de vida

 

O termo Yoga é uma palavra originária do sânscrito e significa “união”, que remete à junção de nosso ser divino (atma) como o ser divino universal (Brahmam). Esse termo é utilizado para designar o sistema científico e filosófico milenar, cuja criação se perde no tempo e foi desenvolvido nas terras do subcontinente indiano.

Existem várias práticas do Yoga. As principais delas são o Laya Yoga, o Bhakti Yoga, o Karma Yoga e o Raja Yoga, além de outras, como o Mantra Yoga, o Hatha Yoga, o Jnana Yoga etc. É certo, também, que muitas dessas práticas se mesclam e se apóiam, ou seja, não há bhakti yoguim que não pratique Karma Yoga e assim por diante.

O Laya Yoga ou “yoga da dissolução” é a prática que visa a total dissolução dos objetos exteriores e interiores no atma e deste último em Brahma. O Bhakti Yoga ou “yoga da devoção” é a prática voltada para o serviço amoroso a Deus. O bhakti yoguim presta devoção aos gurus e busca sempre o relacionamento amoroso com Deus, seja como amigo, amante, mãe, pai etc. É por meio desse amor que ele procura a união ou yoga.

Já o Karma Yoga é a prática que leva o yoguim a buscar a união através das ações. Ele procura fazer cada ação dando o seu melhor e não se envolvendo com o resultado, mantendo sempre a eqüanimidade nas situações, sejam elas boas ou ruins. Procuram servir ao próximo, seja em assistência social direta ou na divulgação das idéias espirituais. Um grande exemplo de karma yoguim foi Mahatma Gandhi.

O Raja Yoga é o “yoga real”. Ele compreende práticas dos três yogas anteriores e é calcado no discernimento, na meditação e no esclarecimento espiritual. Podemos citar Swami Vivekananda, Paramahansa Yogananda e Swami Sivananda como grandes raja yoguins.

 

O surgimento do Yoga

No entanto, por que motivo esse conhecimento tão profundo se desenvolveu nas terras orientais e não nas ocidentais? Tudo remete à formação de duas civilizações.

Ao chegar na região do Vale do Indo, no subcontinente indiano, o povo que compunha a civilização local encontrou uma terra vasta, coberta por florestas densas, vários animais e alimentos, enfim, uma infinidade de recursos para lhe servir. Esses habitantes encontraram nas matas um abrigo para as eventuais invasões bárbaras e, portanto, viam a natureza como algo positivo, procurando se integrar com ela e seus moradores. Foi dessa busca de integração que surgiram as práticas primitivas do yoga.

Ao olharmos para a civilização grega, base do ocidente, percebemos que sua formação se deu em uma região montanhosa e litorânea. As terras férteis eram poucas e o sentimento de posse era bastante forte, pois os gregos viam a natureza como um empecilho, algo a ser dominado, conquistado. Os sábios gregos foram buscar sua sabedoria no oriente. Os templos foram construídos com mão-de-obra escrava e, desse modo, podemos imaginar a atmosfera espiritual em que eles foram erguidos. Sem contar os famosos bacanais, realizadas nos templos dedicados ao deus Baco. Atenas e Esparta, a primeira considerada como o berço da democracia, eram cidades amplamente dominadas pelas oligarquias e que usavam trabalho de escravos (em Atenas, eles eram comprados nos mercados, enquanto que, em Esparta, as populações nativas derrotadas eram forçadas para essa condição).

Mais à frente na história, temos a civilização romana, cuja base foram os gregos. E qual é o monumento romano mais lembrado? Sim, o Coliseu de Roma, palco vivo da barbárie humana. Porém, ao pensarmos na Índia, vem à nossa mente a imagem do Taj Mahal, um grande mausoléu erguido em um ato de amor de um rei por sua esposa, com templos em anexo.

Ao nos lembrarmos da obra O Pensador, de Rodin, tida como símbolo do homem ocidental, examinamos sua postura e verificamos que ele está curvado, com os músculos tensos, como se estivesse carregando o mundo nos ombros. Já na Índia, temos a imagem dos yogues e, como ilustração, vemos Buda sentado tranqüilamente, relaxado e com uma expressão de serenidade e equilíbrio.

Não estou afirmando, com essas comparações, que o Oriente é melhor do que o Ocidente e, por isso, a espiritualidade lá é tão forte. Elas nos mostram o quão diferentes foram as circunstâncias e o contexto do surgimento dessas duas civilizações. A probabilidade da Índia ser mais espiritualizada era maior, pois o ambiente favorecia o desenvolvimento dessa espiritualidade.

 

Os oito passos do Yoga

Foi nesse ambiente propício que os primeiros yogues surgiram. Não é possível precisar a origem do yoga. Muitos sustentam que ele já era praticado rudimentarmente entre os povos que emigraram do leste europeu, enquanto outros sustentam sua origem divina. Do ponto de vista espiritual, a segunda hipótese é a mais plausível. Para explicar isso, usarei o seguinte exemplo: Certo dia, você estava caminhando pelas ruas de sua cidade quando foi atraído pela beleza de uma peça de roupa exposta na vitrine de uma loja. Você resolve atravessar a rua e entrar no local a fim de analisar essa roupa da melhor maneira possível. Sentindo-se agradado, você a compra e usa com prazer.

Da mesma maneira, quando um ser espiritual “legal” olha para um encarnado com boas qualidades, ele se aproxima dizendo: “Que luz ‘bacana’ esse ser tem! Deixe eu me aproximar e examiná-lo melhor”. Se o encarnado lhe agradou, esse espírito resolve investir nele, enviando intuições, boas amizades, conhecimento etc, sempre com o intuito de fazê-lo evoluir. É bem verdade que o oposto também ocorre, ou seja, seres com tendências maléficas se aproximam de encarnados com a mesma sintonia, potencializando a capacidade de fazer o mal. Baseado nesse princípio de ressonância, fica mais claro e plausível a probabilidade da origem do yoga ser espiritual.

Em um ambiente que propiciava a interiorização e a integração, o yoga foi sendo aprimorado até sua codificação, feita por um sábio que viveu no século XIV, chamado Patanjali. O sistema codificado por ele recebeu o nome de Ashtanga Yoga ou “yoga dos oito passos”, que são: Yama (abstenção), Nyama (observâncias), Asana (posturas), Pranayama (controle do prana), Pratyahara (controle dos sentidos), Dharana (concentração), Dhyana (meditação) e Samadhi (expansão da consciência).

O Yama é a purificação mental, a migração do estado materialista para o espiritual, o despertar da natureza espiritual no homem. Ele consiste em dez práticas, que são: Ahingsa (amistosidade, amor por tudo, não-violência), Satya (sinceridade), Asteya (não roubar, não cobiçar), Bramacharya (controle dos desejos, controle sexual e celibato), Daya (misericórdia), Arjawa (honestidade), Kshama (perdão), Dhriti (firmeza), Mitahara (moderação no comer) e Shoucha (limpeza).

O Nyama também é formado por dez práticas, todas voltadas para o estudo e a ação espiritual em si. São elas: Tapas (asceticismo), Santosha (contentamento), Astikya (fé), Dana (caridade), Ishwara-pujana (adoração a Deus), Siddhanta-shrawana (estudo espiritual), Hri (modéstia), Mati (reflexão), Japa (prática de mantras) e Wrata (votos).

Com essas 20 práticas diárias, o homem terá condições de sutilizar suas energias, fazendo com que elas possam fluir de maneira mais ordenada. No entanto, essas práticas só nos capacitam para a percepção da espiritualidade e do conseqüente aumento do amor por ela. Quando este é firme e, portanto, verdadeiro, o yogue está pronto para ir ao terceiro estágio, denominado Asana, que é o controle do corpo físico. Os yogues cultuam o corpo de maneira a torná-lo mais eficiente para o fluxo da energia espiritual. Pela prática de posturas específicas, bloqueios de energias são desfeitos e os chacras são ativados e despertados. As posturas eliminam as doenças do corpo e proporcionam um excelente grau de concentração e força. Elas são importantes por movimentarem as bioenergias, acelerando-as e sutilizando-as.

 

Controle da bioenergia

Junto com o terceiro passo, é praticado o Pranayama, que é o controle dessas bioenergias. Consiste em técnicas de respiração destinadas a controlar o prana ou energia vital e, de maneira bem simples, podemos dizer que são técnicas de purificação do campo bioelétrico ou duplo etérico, onde estão dispostos nossos chacras, responsáveis pela entrada e saída de energia espiritual e vital de nosso corpo. Com esse controle do campo bioelétrico, o yogue fica mais sensível e, portanto, preparado para perceber as irradiações provenientes de seus sentidos. Ele passa a percebê-los com uma maior intensidade e sua percepção de descontrole sobre eles fica muito mais visível.

Ao querer evoluir, o yogue sério passa a praticar Pratyahara, o quinto passo do Yoga, que, por ser o “controle dos sentidos”, está intimamente ligado ao desenvolvimento dos chacras. Nesse estágio, o yogue aprende a dominar o sono, a fome, a sede, o calor, o frio, a atenção e todas as outras sensações provenientes dos cinco sentidos. Essa é uma prática extremamente importante para ele, já que, quando perfeitamente executada, mostra o quão profundo o yogue pode ir no caminho espiritual.

Sem esse domínio dos sentidos, ele não poderá entrar no Dharana, que é a retenção da atenção em um só ponto. A profundidade de Pratyahara é um ponto de medida para a de Dharana, uma vez que um yogue não poderá se concentrar profundamente se não domina os sentidos. Ele se senta para se concentrar e, na primeira brisa que sopra, toda essa concentração é perdida quando pensa “que brisa gelada”. O Dharana tem como objetivo cessar esse estado oscilatório da mente.

Sabemos que é bastante difícil manter a concentração na figura de uma rosa, então, podemos permanecer concentrados nas qualidades dela, fazendo com que a nossa mente localize um campo muito estreito de flutuações. Da mesma maneira, não podemos conceber a idéia de Deus de imediato, portanto, passamos a meditar nas qualidades divinas. Para se chegar a nomeá-las, utilizamos a percepção, o intelecto, a afetividade e a vontade.

A percepção cria os estados oscilatórios da mente por causa de seu contato com as constantes radiações senso-mentais, trazidas ao campo consciencial na forma de imagens que apreendemos como objetos exteriores. Conforme a nossa relação com esses objetos, surge o sentimento de aversão ou de paixão em nossa consciência. É por causa desses sentimentos que o Yoga recomenda a satsanga, ou seja, “a boa companhia”, que não se trata apenas de estar ao lado de um amigo ou amiga, mas da boa leitura, da boa música, do bom ambiente etc. Essas associações também colaboram na pacificação da mente, tornando-a propícia para a prática da concentração.

Quando as irradiações senso-mentais se tornam mais puras, as relações da mente perceptiva entre desejo e vontade se transformam em impulsos ou tendências virtuosas. Com o auxílio da inteligência, a mente perceptiva pode atingir um grau profundo de concentração. Quando a mente está focada profundamente em um só assunto, perde-se a sensação exterior e todas as energias do praticante se dirigem para a cabeça, deixando todo o seu corpo rígido e gelado.

Praticando Dharana corretamente, a mente do yogue estará repleta de boas vibrações, ocasionadas pela prática da satsanga. Nesse estágio, o seu atma (espírito) encontra ressonância com Brahmam (Deus) e se funde com Ele por amor, atingindo o Samadhi, que é a expansão da consciência. Em seu estado mais profundo, é a integração do objeto com o observador, quando ambos deixam de existir, já que o ego se transcende, e se vivencia a realidade última, subjacente a todas as coisas.

Existem o Samadhi dual (com atributos) e o não-dual (sem atributos). No primeiro caso, o yogue não perde a consciência de si mesmo, enquanto que, no segundo, há a total aniquilação do Eu. Seres como Jesus, Buda, Krishna e Ramakrishna atingiam esse estágio de não-dualidade à vontade, voltando apenas para transmitir a sabedoria divina.

Vale lembrar que as práticas desse sistema de Yoga não são ritmadas, ou seja, os passos anteriores não são abandonados quando se atinge um mais elevado. Todos eles são praticados simultaneamente, não havendo pausa na prática do Yoga, que passa a ser um estilo de vida.

 

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