Medicina e espiritualidade
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Ciência e Religião não são duas correntes antagônicas, mas abordagens que se complementam na busca por uma visão integral da realidade

 

Cada vez mais, “minorias criativas” buscam a integração entre Fé e Razão, tendo em vista que é impossível compreender o mundo, o universo e o próprio ser humano, sem as luzes de um paradigma, de um modelo, que contemple todas as áreas das cogitações humanas. As revoluções conceituais da física, no século XX, muito contribuíram para essa nova visão da realidade, demonstrando que a matéria cedeu lugar à energia, o tempo é variável, o movimento descontínuo, a interconectividade não localizada, e a consciência é capaz de influir nos eventos, selecionando possibilidades. Nesse novo tempo, especialistas passaram a enxergar o ser humano de forma integral, conectado a uma imensa rede invisível, que engloba todas as coisas, do micro ao macrocosmo, e não têm nenhum pudor em reconhecer a complementaridade entre Ciência e Religião, valorizando a integração da espiritualidade à vida humana.

Foi assim que ganhou impulso, na década 1970, uma dessas minorias criativas, formada por médicos que buscam implantar nas universidades estudos de Medicina e Espiritualidade. Sob essa denominação, já há cursos regulares ou opcionais, e também de pós-graduação, em dois terços das universidades americanas, entre outras, nas Escolas Médicas de Harvard, com Herbert Benson, judeu, de Duke, com Harold Koenig, católico, do Novo México, com William Miller, luterano. Afirmamos, com renovada alegria, que nós, médicos espíritas, fazemos parte de uma dessas minorias criativas que tenta levar espiritualidade às universidades, porque os fundamentos da Medicina Espírita estão em sintonia com o que é realizado, hoje, na maioria das universidades norte-americanas.

A obra do ilustre físico e humanista Fritjof Capra, especialmente, O Ponto de Mutação , está na vanguarda dessa luta em favor de um novo paradigma para a humanidade, em particular para a Medicina, com sua proposta de Assistência Holística à Saúde, que contempla o ser humano integral – Mente-Corpo. Nessa luta por um novo modelo de saúde, engajou-se também o físico quântico, Amit Goswami, com sua teoria sobre a consciência, exposta em sua obra, especialmente, O Universo Autoconsciente. Nela, ele sustenta que a consciência está fora da matéria, sendo, na verdade, fonte criadora do mundo material.

Hoje, tanto quanto nos séculos XIX e XX, há fortes evidências científicas da existência do espírito. Pesquisadores, em sua maioria não espíritas, têm investigado casos de Experiências de Quase-Morte (EQM), Visões no Leito de Morte, Experiências Fora do Corpo, Transcomunicação Instrumental e Reencarnação, acumulando evidências em favor da sobrevivência da alma.

 

Vida após a morte

O neuropsiquiatra, Peter Fenwick, os cardiologistas Michael Sabom e Pim Van Lommel, os psiquiatras, Raymond Moody Jr , Elizabeth Kübler-Ross e Sarah Kreutziger, o pediatra Melvin Morse, os psicólogos, Kenneth Ring, Phillis Atwater e Margot Grey, entre outros, relataram casos de EQM, contando o que centenas de sobreviventes da morte vivenciaram, quando foram considerados clinicamente mortos. A conclusão dos pesquisadores e dos sobreviventes é de que algo imaterial sobrevive à morte do corpo físico.

Na alentada obra Reincarnation and Biology, de Ian Stevenson , professor de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de Virgínia, EUA, constatamos também, nos 2.600 casos pesquisados, não apenas evidências da sobrevivência do espírito, mas igualmente da reencarnação, podendo-se acompanhar, inclusive, a correlação entre as marcas de nascença e os defeitos congênitos da existência atual com as vivências anteriores.

Hoje, já há centenas de trabalhos publicados em revistas científicas prestigiadas, como The Lancet, New England Journal of Medicine; British Medical Journal, JAMA etc. sobre o valor da prece na terapêutica. Do mesmo modo, experiências realizadas pelo psicólogo brasileiro Júlio Peres, em parceria com o neurocientista Andrew Newberg, da Universidade da Pensilvânia, EUA, evidenciaram áreas do cérebro em funcionamento que são ativadas e rebaixadas durante as sessões de Terapia por Regressão de Memória, realizadas com pacientes do Instituto Nacional de Terapia de Vivências Passadas (INTVP), do Brasil. Essas pesquisas, somadas às que o dr. Newberg realizou com pessoas em estado de vigília e meditação, mostram um campo promissor para o estudo do espírito e sua atuação sobre a matéria.

No Japão, Massaru Emoto, após 8 anos de investigação, publicou o livro, Messages from the Water, mostrando como a água pode formar cristais perfeitos ou não, conforme a ação exercida sobre ela pelos pensamentos e sentimentos humanos. Tanto as experiências de Andrew Newberg e Júlio Peres, quanto as de Massaru Emoto trazem subsídios importantes para validar a Terapêutica Complementar Espiritual e entreabrem novos campos para a pesquisa em medicina energética.

Hoje, com o progresso vertiginoso da Ciência e, igualmente, o aumento maciço das doenças da alma, é imperioso que esses cursos de Medicina e Espiritualidade se multipliquem nas escolas médicas do mundo. A mudança de mentalidade, porém, não é nada fácil. Há três séculos que a ênfase tem sido para a visão de um ser humano esquizofrênico, dividido entre as investigações científicas e a busca religiosa, consideradas e alimentadas como irreconciliáveis. Esse paradigma antigo, materialista reducionista, está calcado no predomínio do egoísmo sobre o amor, do intelecto sobre o sentimento, e tem sido responsável pelo recrudescimento da violência, da ambição sem freios, dos vícios, da intolerância religiosa e das grandes desigualdades e calamidades sociais. Nele, o ser humano é reduzido tão-somente às funções neuroquímicas do cérebro, destituído de qualquer elemento imaterial que anime suas células. Com esse modelo, não haverá paz no mundo.

Contra ele, a favor da integração espírito-matéria, coloca-se o movimento em prol da Medicina e da Espiritualidade. Com a preponderância deste modelo, que tem na solidariedade uma de suas importantes vigas-mestras, acreditamos que os médicos estarão muito mais aptos a lidar com a dor humana, esforçando-se por diminuir os sofrimentos e angústias dos seus irmãos em humanidade.

 

 

Medicina e religiosidade

Por Zila Van Der Meer Sanchez 

No campo da saúde mental, até o início do século XX reinava absoluta a opinião de MARX (2005), expressa em sua publicação “Crítica da Filosofia de Direito de Hegel”, de 1893, em que afirma que a “a religião é o suspiro da criatura oprimida, o coração de um mundo sem coração e a alma de condições desalmadas. É o ópio do povo.”

Segundo ele, a religião reflete o que falta na sociedade, é uma idealização das aspirações do povo que não podem ser satisfeitas de imediato. Como ópio, analgésico, alivia a dor, mas os torna alienados, obscurecendo sua percepção da realidade.

No ínício do século XX, começaram a surgir estudos que faziam referência a uma possível influência positiva da religião na vida de seus praticantes, contrariando a postura radical de Freud, que categorizou a religiosidade como uma psicopatologia por si só, afirmando que “a religião é uma neurose obsessiva, uma enfermidade psicológica alimentada pela repressão sexual”. Tais estudos podem ter sido influenciados pela ruptura da postura cética dos cientistas, marcada pelas manifestações religiosas de Einstein e Jung, nessa época da História. Enquanto Jung contrariando as teorias freudianas, afirma que é a ausência da religião, não a sua presença, que leva à neurose, Einstein é mais contundente ao afirmar que “a ciência sem a religião é manca e a religião sem a ciência é cega”, sugerindo que os dois campos de estudo são complementares e não antagônicos. Mas foi apenas no final do século XX que tais estudos tomaram corpo e foram identificados como linhas de pesquisa de grande porte.

Atualmente, o bem-estar espiritual é uma dimensão da avaliação do estado de saúde, junto às dimensões corporais, psíquicas e sociais, conforme proposto pela OMS. Além disso, um Manual de Religião e Saúde Mental publicado em 1998 levanta dezenas de evidências científicas que apontam para uma relação positiva direta entre religiosidade e o enfrentamento do estresse e de eventos negativos da vida e uma relação negativa desta variável com patologias como: depressão, ansiedade, psicoses e dependência.

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